sábado, 9 de outubro de 2010

[Neste país, até o camelo quer ser doutor]



É o que o camelo acha: é tão, mas tão inteligente e tão superior... que não podia ser electricista, canalizador ou cantoneiro de limpeza. Não. Porque estas profissões estão reservadas, não para camelos mas para burros. Burros inferiores.

O Areias é tão inteligente e tão superior que só podia ser Doutor. Todos querem ser Doutores.

Vejamos o caso do sr. Sócrates. Este queria ser Engenheiro [isto é assim, se não for Doutor, tem que ser Engenheiro... há que ter um título qualquer antes do nome, no cartão de crédito]. Por portas travessas, o dito conseguiu e como não é, de todo, uma pessoa egoísta, lembrou-se dos restantes portugueses.

Num saltinho [não de camelo, mais de canguru], os portugueses com a quarta classe passaram a ter o nono ano. E, pouco tempo mais tarde, tiveram a oportunidade de concluir o ensino secundário. Não satisfeito, o sr. Sócrates afirmou que para Portugal "entrar na rota da excelência" tem de atingir a meta de 40% de pessoas com idades entre os 30-34 anos diplomadas no ensino superior até 2020.

Agora, por causa de um sonho idiota de um camelo [não do Areias... do outro], temos pessoas a entrar na universidade com nota negativa...

Esta treta somada à ideia espantosa [outra treta] da sra. ministra da educação, em que os meninos não devem ser obrigados a repetir o ano [coitadinhos, porque é traumático] só pode dar em matérias fecais [aka, merda].

Eu conheço pessoas da minha idade - Doutores - que, para além de terem uma caligrafia imperceptível, têm uma ortografia digna da primeira classe. Estes doutores passaram 12 anos no ensino regular, outros cinco no ensino superior e nem escrever sabem [já para não falar em cálculos... porque se eu for por aqui, a desmoralização dos ditos é total e eu não estou aqui para desmoralizar ninguém]. Agora... como será com pessoas que fazem uma catrefada de anos em 12 ou 24 meses.

Pior ainda... as pessoas que ingressam no ensino superior com média negativa. Para se ter média negativa há que ter muuuiiitas negativas... lá está, a tal matéria fecal. É nisto que vai dar quando estas pessoas enfrentarem o mercado de trabalho. Esse sim, com objectivos bem definidos. Já para não falar na competitividade... como é que uma pessoa mal preparado desde a base, pode competir com alguém que tenha sido formado longe desta... insanidade educativa?

Não estou contra a instrução das pessoas. Estou contra esta necessidade social de se ser Doutor que permite esta permissividade quase pornográfica no nosso sistema de ensino. Temos o exemplo do indivíduo que, depois de frequentar dois módulos nas "novas oportunidades" e ter feito um único exame, entrou na universidade.

Na nossa sociedade, ou se é Doutor ou não se é nada. Limpezas domésticas, pintura ou carpintaria... há cada vez menos pessoas que queiram fazer estes serviços porque são profissões, de alguma forma, mal vistas pela família, amigos, vizinhos... conheço quem tenha seguido uma destas profissões mas nega-o [três vezes, se for necessário].

Então, comadre: o que é o que o seu filho faz, lá pela cidade? Se o dito for Doutor, a comadre enche a boca. Se não for Doutor, enche do mesmo jeito. Uma mentirinha não vai trazer mal ao mundo.

Portugal é, assim, um país de Doutores. O desemprego sobe desmesuradamente junto aos novos licenciados. E todos sabemos porquê: não há mais saída profissional para tanto Doutor. Não obstante, os jovens insistem na escolha de profissões sem futuro. Ser algo útil à sociedade não é para eles, porque não lhes dá a possibilidade de ter o tal [o muito desejado] DR. antes do nome, na correspondência ou no cartão de crédito.

Portugal está sem homens e sem mulheres para preencher as vagas crescentes nas áreas de serviços... mas abundam os Doutores.

Doutores desempregados. Mas, Doutores.

quinta-feira, 1 de julho de 2010